Negligência Emocional na Infância

Será que não preciso de ninguém? Tem gente que pensa assim…. Alguns nunca observam seus sentimentos e até acham desnecessário falar deles. Autocuidado para essas pessoas significa “fazer o que tem de ser feito” e “não confiar em qualquer um”. Aliás, “só dá para confiar em si mesmo, pois nessa vida a gente não pode depender de ninguém”.

Frequentemente, essas crenças são ecos de uma criança ferida que não teve supridas suas mais importantes necessidades emocionais. Quando a negligência emocional consigo mesmo e a desconfiança generalizada nas relações são levadas como verdades absolutas na fase adulta, reconhecemos fortes sinais de alguém que vivenciou uma negligência emocional na infância.

Por vezes, adultos acreditam que criança não tem sentimentos ou apenas vive no mundo da fantasia sem perceber o que se passa ao seu redor. Para alguns pais, os sentimentos do filho podem ser percebidos como “excessivos” ou “sem motivo”. Trata-se, na verdade, de uma projeção da própria inabilidade em notar, atender ou responder efetivamente às suas necessidades emocionais e às dos outros. É comum que pais que sofreram negligência emocional na infância não consigam discernir as necessidades emocionais dos filhos, o que pode, inclusive, resultar em outras negligências como maus hábitos de alimentação, higiene, falta de disciplina com os horários, responsabilidades escolares e até mesmo o abandono de menores.

Apesar da negligência emocional na infância ser comum a famílias de todos os níveis socioeconômicos, há crianças que não têm acesso a espaços de cuidado e convivência básicos como escola, saúde pública, esportes e lazer. A alienação social e econômica pode contribuir para que muitos pais não tenham condições de investir no desenvolvimento global dos filhos.

Além disso, a presença de doenças mentais na família ou de um ambiente de hostilidade e violência física, moral, sexual, psicológica ou financeira pode também configurar um contexto de extremo abandono afetivo, contribuindo fortemente para a formação de comportamentos disfuncionais e sofrimentos psíquicos agravados tanto na infância e adolescência quanto na fase adulta.

A capacidade de uma criança em identificar e expressar seus sentimentos é forjada pela escuta atenta e sensível do adulto que com ela dialoga. Quando esta não encontra ressonância afetiva por parte dos outros significativos de sua vida, acaba não desenvolvendo habilidades psicológicas e relacionais vitais para seu bem estar. Assim, passa a apresentar uma baixa resistência à frustração, dificuldade em dar e receber e de ter empatia pelo outro, além de não conseguir comprometer-se com suas necessidades de maneira autêntica e reivindicar seus direitos como indivíduo nos mais diversos contextos da vida em sociedade sem ferir o direito do outro.

Com seu desenvolvimento biopsicossocial gravemente interrompido, encontramos adultos cronicamente insatisfeitos, decepcionados ou com raiva de si mesmos. Não conseguem identificar seus sentimentos, forças e fraquezas de maneira a fazer escolhas coerentes com suas necessidades e manter relacionamentos afetivos estáveis. Dessa forma, são acompanhados por um mal estar subjetivo, que pode ser expresso em distúrbios de aprendizagem e/ou de comportamento, transtornos ansiosos e de personalidade, envolvimento em relacionamentos abusivos e até mesmo em atividades criminosas e outros comportamentos de risco como dependência química e suicídio.

Contudo, a negligência acaba quando se pede ajuda. Autocuidado e autoconhecimento também precisam ser aprendidos! Se você de alguma forma se reconhece nesse texto ou reconhece alguém que vivencia esse sofrimento, não hesite em buscar profissionais de saúde mental que podem te ajudar.

Pedir ajuda não é só autocuidado – é um ato de amor indispensável a você nesse momento.

Texto: Pedro Paulo Coelho

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