teen cellphone

Pouco exercício e muita tela afetam saúde mental de jovens

Médico Luis Fernando Correia, o Doc, explica estudo que mediu o tempo dedicado a atividades físicas e a telas por adolescentes e sua relação com satisfação e queixas psicossomáticas.

O bem-estar mental em adolescentes diminuiu consideravelmente nas últimas décadas, tornando importante a identificação de fatores de risco que podem ser modificados. Tempo de tela prolongado e atividade física insuficiente podem aumentar o risco de baixo bem-estar mental em crianças e adolescentes em idade escolar.

Estes fatores de risco atuam de forma independente e sinérgica. Num estudo recente foram examinados a dose e a associação do tempo de tela e atividade física com o bem-estar mental dos adolescentes, que foram divididos por sexo.

Os pesquisadores usaram questionários padronizados, aplicados em três rodadas, do levantamento de Saúde e Comportamento em Crianças em Idade Escolar usados em 42 países norte-americanos e europeus. Os participantes tinham em média 13.6 anos de idade.

Os questionários buscavam indicadores de saúde e variáveis de satisfação pessoal e queixas psicossomáticas, relacionando esses indicadores com os relatos de atividade física e uso de telas pelos adolescentes. Todos os dados foram ainda estratificados por sexo dos participantes.

Os mais de 500 mil adolescentes apresentaram níveis de satisfação de de 7.70, em uma escala de um a dez, para os meninos e 7.48 nas meninas. Por outro lado, as queixas psicossomáticas eram mais frequentes nas meninas, com níveis de 9.26, do que nos meninos, com 6.89.

Análises estatísticas mostraram que existe uma relação direta entre tempo de tela, atividade física e satisfação pessoal. Porém, quando o tempo de tela passava de uma hora por dia os níveis de satisfação caíam proporcionalmente.

Os níveis de atividade física, por seu lado, estavam diretamente ligados ao bem-estar mental das crianças e adolescentes, diminuindo as queixas psicossomáticas e aumentando a satisfação com a vida.

A conclusão dos pesquisadores foi de que muito tempo de tela associado a baixa atividade física comprometem a saúde mental de adolescentes de países de alto nível de renda como os que foram estudados.

Fonte: https://ge.globo.com/eu-atleta/saude/post/2021/08/18/pouco-exercicio-e-muita-tela-afetam-saude-mental-de-jovens.ghtml

autismo..

“Descobri que era uma mulher autista depois do diagnóstico da minha filha”

A mãe Carolina Valomim conta como foi perceber que tinha os mesmos sinais de TEA da filha e ir procurar o seu diagnóstico depois de adulta.

Sem manual de instrução, mas com muitos pitacos vindos de todos os lados, a maternidade é um mergulho no escuro. São muitas as subidas e descidas de cada mês da gestação, as inseguranças e felicidades do nascimento e então o início da criação, em que começamos a aprender a dar as primeiras braçadas. Só que ainda que nos contem dicas para melhorar as noites de sono, a aliviar as cólicas do recém-nascido e tenhamos um papo sincero sobre não precisar dar conta de tudo, algumas descobertas são vividas apenas na prática. E um destes ensinamentos que ninguém nos conta é que o maternar é também uma visita à própria infância.

Quem fala sobre isso é Carolina Valomim, de 37 anos e mãe de três meninas: Giovanna, de 14, Maria Fernanda, de 11 e Ana Beatriz, de cinco anos. A tradutora e assessora para legalização de estrangeiros relata que ao descobrir que a filha do meio é autista, passou a relembrar a própria infância, adolescência, juventude e até mesmo a fase adulta e percebeu que os comportamentos trazidos pela psicóloga da pequena também cabiam para si. Assim, começou a sua jornada em busca do próprio diagnóstico.

Ainda no mesmo ano que Maria Fernanda recebeu o laudo do Transtorno do Espectro Autista (TEA), meses mais tarde, Carolina também foi diagnosticada com a condição. Desde então, sua missão tem sido um mergulho no autoconhecimento para conseguir acolher as filhas e a si mesma – reconhecendo os desafios trazidos pelas comorbidades do autismo no seu maternar e lutando por menos preconceito durante o processo.

Veja o relato dela na íntegra:

“O primeiro diagnóstico de autismo na minha casa foi o da Maria e eu não entendia nada sobre o transtorno. Durante toda a minha vida, eu tinha uma ideia completamente errada sobre o assunto e que infelizmente a maioria das pessoas também têm. É a que vemos nos filmes, ou seja, de uma pessoa tendo uma crise atrás da outra, que fica trancada em casa, não tem nenhum tipo de vida ou que é um ‘gênio incompreendido’.

Por isso, demorei para buscar ajuda e chegar no diagnóstico dela. Ainda que a Maria Fernanda só tenha passado a ter a fala funcional lá pelos quatro anos, ela sempre foi uma criança calma, mas muito tímida, introspectiva. As pessoas diziam que ela iria crescer e essas questões iriam melhorar.

Só que quando ela tinha por volta de sete anos, ela passou de um comportamento completamente pacato para episódios de violência, como quebrar as coisas quando se frustrava e muito choro. Aquilo começou a me incomodar e resolvi escutar minha intuição. Na época, a família não foi muito a favor. Nem meu marido queria que eu começasse a buscar algum tipo de ajuda. Acharam que era exagero, birra de criança, mas eu resolvi pesquisar.

Ela tinha uma questão na fala, em que ela dizia os sons do “s” e do “z” errados. A impressão que eu tinha é que ela tinha língua presa, por isso, o primeiro profissional que eu procurei foi uma fonoaudióloga. Foi muito curioso porque na primeira consulta, ela já saiu falando corretamente.

Então a fono me disse que iria passar alguns exercícios para a Maria fazer em casa, para se acostumar a falar da maneira correta, mas não tinha necessidade dela continuar as sessões já que ela tinha a fala completamente funcional. Ainda assim me recomendou que eu procurasse uma terapia, porque desconfiava que encontraríamos algo”.

O processo de diagnóstico tanto da mãe quanto da filha

“Eu segui o conselho dela e fui atrás de uma psicóloga. A Maria fez em torno de oito, nove meses de terapia, mas era uma profissional que não tinha especialização em autismo. Depois desse tempo, ela me chamou no consultório, explicou que não era a área dela, mas ela acreditava que era TEA. Então, para fechar um laudo, eu teria que procurar um neuropediatra.

Ela já estava com oito anos, quase nove anos, quando o diagnóstico aconteceu em fevereiro de 2019. Só que por tudo que fui aprendendo com o tempo, já que eu tinha sempre que estar em contato com a psicóloga, fui me identificando com o que ela estava me ensinando – porque, apesar de não ser especialista no assunto, ela foi pesquisando para ajudar tanto a minha filha quanto a mim. Isso me fez decidir que eu também precisava descobrir se eu era autista

Enquanto o diagnóstico da Maria foi em fevereiro de 2019, o meu foi em setembro do mesmo ano. Pesquisei uma psiquiatra por alguns meses, porque não queria dar o azar de encontrar um médico que não topasse este processo. Eu já tinha lido muitos relatos de que era difícil conseguir qualquer diagnóstico na vida adulta se você não fosse um caso severo. Mas encontrei essa especialista que me acompanha até hoje.

Ela fez diversos testes escritos comigo, com várias perguntas, e depois no consultório fomos debatendo as respostas que eu dei nestes questionários que ela me passou. Chegamos no diagnóstico: eu sou autista, tenho Transtorno obsessivo-compulsivo (TOC), depressão (algo que já convivo desde criança), ansiedade crônica e, há três semanas, descobri a fibromialgia.

O meu marido também é autista, mas ele não tem laudo porque não quer ir ao médico. Só que com tudo que aprendemos nessa jornada, ele viu o quanto foi importante buscar ajudar. Inicialmente, ele não queria que eu levasse a Maria em especialistas e tinha os motivos dele. Acho que vergonha da família, mas hoje é tranquilo.

Ele ajudou muito durante a terapia e também aprendeu. Inclusive, ele viu todo o processo e falou: ‘eu sou isso também!’, foi muito engraçado. Perguntei se iríamos ao psiquiatra, ele disse que não queria ir e eu respeito. Mas ele tem estereotipias com as mãos (movimentos repetitivos) e várias outras características, lembro que conversei com a minha sogra e ela foi relatando… Enfim, foi uma descoberta geral e grande para a família.

Agora, estamos iniciando uma investigação também com a minha filha mais nova, que está com cinco anos, porque não sabemos se ela pode ter uma alta habilidade, transtorno opositor ou até mesmo o TEA. Estamos no início do processo, mas mais para frente vamos saber o que ela tem.

Por que era tão importante descobrir o autismo

“O que me motivou foi querer criar uma história diferente. Eu e a minha mãe nunca tivemos uma relação boa. Ela é uma pessoa com uma série de questões psiquiátricas, mas que nunca aceitou tratar e isso refletiu em mim a vida inteira, especialmente no nosso relacionamento. Eu entendi que posso amá-la, mas não preciso conviver com ela, porque não tem como.

Então, primeiro, eu saí do Rio de Janeiro e vim para o Paraná, há nove anos, para me afastar mesmo, porque venho de uma família muito tóxica e queria ter certeza de que teria uma história diferente da minha mãe porque sofri muito com ansiedade, depressão, TOC e não procurava ajuda.

Quando eu comecei a investigar as questões da minha filha, eu vi quanto isso estava sendo bom para ela. Notei como ela evoluiu e ainda está evoluindo, porque continua fazendo terapia. Então, o que me motivou foi ver como essa descoberta estava sendo boa para todo mundo e eu também queria ficar bem, pela primeira vez na minha vida. Queria ficar bem para viver muito, para ver minhas filhas crescendo e eu havia chegado em um limite que não ia mais para frente”.

O maternar de uma mulher autista

“O TOC, uma comorbidade do autismo, faz com que eu seja uma pessoa extremamente medrosa e isso fez com que eu não deixasse com que as minhas filhas fossem realmente crianças. Além do fato de que eu batia muito de frente com a minha mais velha, porque não conseguia entender certas coisas.

Ela é muito vaidosa e eu sou uma pessoa que só agora, com 37 anos, estou querendo variar, mexer no cabelo, fazer unha. Mas roupa, por exemplo, eu tenho dez peças no armário. Então, eu via minha filha pedindo maquiagem, roupas e achava um absurdo. Isso me irritava um pouco. Ela dizia que eu não a entendia, ficava chateada comigo, eu com ela ,e no fim das contas é só respeitar. Depois do diagnóstico, nosso relacionamento melhorou muito.

E sobre os meus medos, ainda bem que o meu marido gosta mais de aventura. Ele sempre quem me encorajou muito, porque realmente sempre fui muito medrosa, de não querer deixá-las fazer nada, não ir a lugar nenhum por causa da minha ansiedade e isso influenciou bastante na minha maternidade”.

A representatividade na internet

“Depois do diagnóstico, eu também entendi o quanto era importante falar sobre o assunto, porque ainda existe muito preconceito e falta de informação. No meu Instagram, eu tento passar meu dia a dia, as minhas experiências de forma leve. Só que nem sempre falamos de coisas boas, afinal, temos dias ruins, mas é a vida real. É uma missão para mim desmistificar tudo que existe em torno do autismo, que nem eu mesma sabia”.

Fonte: https://bebe.abril.com.br/familia/descobri-que-era-uma-mulher-autista-depois-do-diagnostico-da-minha-filha/

autismo.

‘Só descobri que tinha autismo depois de adulta’

Estima-se que 70 milhões de pessoas no mundo tenham autismo, sendo 2 milhões delas no Brasil.

O autismo se caracteriza por diferentes graus de distúrbio de desenvolvimento, que se manifesta sobretudo na comunicação e na interação social. As causas ainda não são plenamente esclarecidas pela ciência e a intensidade dos sintomas varia bastante – o que muitas vezes faz casos distantes do estereótipo da síndrome demorarem a ser identificados.

Existe um subdiagnóstico do autismo especialmente entre mulheres, e a BBC conversou com sete britânicas que só descobriram ser parte do espectro autista quando já estavam na vida adulta.

Veja como a síndrome e a descoberta dela afetaram a vida dessas mulheres:

Maura, 50: ‘Parecia que todo mundo, menos eu, havia recebido um manual sobre como se comportar’

“Seis anos atrás, fui diagnosticada com síndrome de Asperger, uma forma de autismo. Como no caso de muitas mulheres, isso ocorreu após o diagnóstico do meu filho, Darragh. Se não fosse por isso, teria passado o resto da minha vida sem saber por que me sentia diferente.

Ainda criança, parecia que todo mundo menos eu havia recebido um manual sobre como se comportar ao redor de outras pessoas.

Me sentia mais confortável com os animais. Como eu me saía bem nos estudos e mascarava minha ansiedade, eu não chamava atenção – as pessoas achavam que eu era simplesmente tímida.

Quando meu autismo foi identificado, foi como se eu tivesse tirado do corpo um espartilho que eu sequer sabia estar usando.

Agora eu entendo que tenho um cérebro que processa informação sensorial e social de forma diferente em relação à maioria das pessoas.

Posso cuidar melhor de mim, gerenciando minha energia social e evitando o excesso de (estímulos) sensoriais. Encontrei um senso de identidade.

As mulheres não devem ter medo de serem diagnosticadas – pode ajudar a explicar tanta coisa. Quanto a vir a público com isso, é uma decisão pessoal, é claro.

Estou vivendo a vida que quero. Tenho uma carreira interessante e recompensadora como funcionária pública na Irlanda do Norte, com colegas que me aceitam como eu sou.

Escrevi um livro, com algumas das minhas irmãs autistas de todo o mundo, e muitas delas se tornaram amigas próximas.

O mais importante é que o diagnóstico enriqueceu minhas relações pessoais e fez de mim uma mãe mais confiante.

Darragh e eu temos um elo especial, e ele me deixa orgulhosa todos os dias.”

Hannah, 28: ‘Meninas aprendem a copiar os não autistas’

“Estou fazendo uma pesquisa de PhD sobre mulheres autistas que não são diagnosticadas. Mulheres e meninas comumente fazem um esforço natural de se encaixarem na sociedade, então seus sintomas não são estereotipadas como ‘autistas’.

Elas às vezes se sentem mais inclinadas a fazer amigos – então aprendem a copiar (a interação social) dos não-autistas.

Um exemplo é que muitas podem achar difícil fazer contato visual. Eu acho. Aprendi a desviar o olho por alguns segundos e daí olhar. Eu assistia às pessoas com cuidado e estudei psicologia ao ponto de conseguir agir naturalmente. Mas aprender esse repertório social demorou muitos, muitos anos.

Ao ser diagnosticada, consegui entender muitas coisas esporádicas que não funcionavam na minha vida.

Quando era mais jovem, imaginava situações e passava o dia inteiro dentro do meu próprio mundo.

Não conseguia brincar com as outras crianças. Eu era um fracasso em tentar acompanhar os jogos imaginários dos outros.

Na escola, sofri depressão e questões de saúde mental, e a partir dos 14 anos passei a ser escolarizada em casa.

Os médicos focaram na depressão, em vez de pensar em um possível diagnóstico de autismo. Em determinado momento, achei que pudesse ter transtorno de personalidade limítrofe. Foi bastante frustrante.

Achei que ir à universidade consertaria tudo. Fui estudar Psicologia. Fiz amigos, mas nunca frequentava as palestras.

O problema nunca foi acadêmico, mas sim a forma como eu encarava o aprendizado. Eu focava excessivamente em um projeto, durante dias, e precisava que os prazos de entrega fossem prolongados. É a mesma coisa agora com o meu PhD.

Tudo mudou quando comecei sessões com uma terapeuta artística para lidar com minha ansiedade. Ela sugeriu que eu poderia ter a síndrome de Asperger. Foi a partir disso que fui diagnosticada. Isso me deu alívio. Agora entendo que muitas mulheres e meninas passaram – e ainda passam – por exatamente a mesma coisa que eu.”

Jasmine, 26: ‘Estou cansada. Sei que tem algo errado comigo. Preciso descobrir o quê’

“Eu realmente pensava que eu era um alienígena. Eu não parecia ser como os outros humanos. Parece bobo, mas essa era a única coisa que meu cérebro infantil conseguia compreender.

Quando era bebê, as pessoas achavam que eu era surda. Mas não era – eu simplesmente não estava prestando atenção a elas.

Sofri muito bullying na escola. Acho que eu era um alvo fácil.

Foi muito desgastante. Durante as aulas, eu sempre sentia ter alguma dificuldade de aprendizado – algum tipo de bloqueio mental.

Quando os professores me faziam perguntas, meu cérebro desligava, precisava de um tempo extra para processar o que estavam me dizendo.

Só decidi que precisava de algum tipo de diagnóstico quando me formei em licenciatura. Pensei, ‘estou cansada. Sei que tem algo errado comigo. Preciso descobrir o quê.’

Fui diagnosticada aos 22 anos. Agora, a maioria dos meus amigos são do espectro autista. É mais fácil assim.

Entrei para um grupo artístico liderado por pessoas com questões de saúde mental. Eles davam workshops de comédia – e a partir disso acabei virando comediante.

Em meu stand-up, não me sinto tão estranha quanto quando estou conversando com as pessoas socialmente. É algo natural, (porque) não preciso conversar com ninguém especificamente nem ficar pensando, ‘será que é a minha vez de falar? Será grosseiro dizer tal coisa?’.”

Amanda, 40: ‘Comecei a me aceitar como sou’

“Para ser sincera, não tenho nenhum amigo. As pessoas que eu chamo de amigos são as que eu conheci no trabalho ou pelo Facebook. Mas não tenho ninguém com quem sair.

Não gosto que as pessoas venham a minha casa. É como meu santuário. Isso provavelmente soa meio estranho.

Meu marido é bastante sociável e se dá bem com todo mundo, então ele frequenta festas sem mim. Ele me conta quando vai ter uma festa, mas deixa para mim a decisão (de ir ou não). Não vou em 90% das vezes.

Ele costumava ficar chateado, mas agora ele entende que não é uma rejeição a ele. É que eu não consigo me colocar em uma situação em que me sentiria muito desconfortável.

Ambos os meus filhos são autistas. Minha filha foi diagnosticada aos 13 anos; meu filho, de 15, quando tinha quatro anos.

Eu li sobre a síndrome de Asperger e percebi que meu filho se encaixava nas características.

Ele ficava no carpete da escola olhando para o lado errado. As professoras achavam que ele não estava ouvindo, mas ele estava.

Com o tempo, comecei a me identificar muito com ele. Entendia muito seus pensamentos e comecei a me perguntar: ‘Será que eu também tenho Asperger?’

Meu ponto mais baixo foi quando comecei a interpretar as coisas equivocadamente na escola primária onde trabalhava e a cometer erros simplesmente porque não entendia as coisas. Foi quando decidi fazer uma avaliação de autismo e fui diagnosticada em 2012. Foi um alívio.

‘Não tem nada errado comigo, só sou autista’, pensei. É só a forma como o cérebro está ‘ligado’ e como ele vê o mundo.

Comecei a entender por que sofria tanto em interações sociais e não conseguia fazer amigos.

Comecei a me aceitar como sou – algo que não fazia até então.”

Claire, 35: ‘Agora, aceito melhor o porquê de eu fazer as coisas que faço’

“‘Não é possível que eu, psicóloga clínica, seja autista’, eu pensava. ‘É incompatível, porque autistas não têm empatia.’

Esse é o nível de ingenuidade que eu tinha antes. Caiu a ficha durante uma aula de psicologia em que estávamos aprendendo sobre diferentes síndromes, autismo incluído: ‘Nossa, parece muito comigo’.

Mas nem tudo fez sentido. Não aprendemos como o autismo se manifesta em mulheres, nem sobre a diversidade entre gêneros.

Acho que há um grande desejo das meninas de serem sociáveis, e o diagnóstico do autismo geralmente é baseado em traços masculinos.

Hoje, muitas das pessoas autistas que vêm a mim (no consultório psicológico) são traumatizadas, por serem forçadas a serem algo que não são.

Não vejo isso (o acompanhamento) como terapia, porque não há tratamento. Vejo como o desenvolvimento de habilidades para a vida.

E também desenvolver confiança.

Com minhas economias, comprei um terreno e coloquei patos, galinhas, cavalos e cabras ali. É onde trabalho com autistas. Nós passamos o tempo com os animais, que são como mediadores. Não é algo muito baseado em teoria, apenas experiência empírica que deu certo.

Fui diagnosticada aos 32 anos e isso mudou completamente a minha vida e a minha identidade para melhor.

Agora, aceito melhor o porquê de eu fazer as coisas que faço. E o autismo me oferece diversos dons e talentos.”

Anna, 27: ‘Acho muito difícil percorrer um salão e dizer oi para um monte de gente’

“Quando era adolescente, não conseguia entender o que estava errado comigo. Me sentia deslocada, e os professores me rotulavam como malcriada.

Chega um ponto em que você deixa de acreditar que deveria estar no mesmo planeta que as outras pessoas, porque você não entende ninguém e ninguém te entende. É como se você tivesse sido trazido por uma nave espacial.

Fui diagnosticada aos 22 anos, quando minha mãe começou a trabalhar em um centro de atendimento a autistas. Ela chegou em casa com um monte de livros e disse, ‘Quero que você os leia, porque acho que é isso que você tem’.

A princípio, meu médico me disse que eu tinha transtorno de personalidade limítrofe. E agregou, ‘é só depressão, só ansiedade. Tome estes remédios’.

Mesmo com o diagnóstico (de autismo), sentia que ninguém ao meu redor entendia ou queria entender.

Eu olhava para as pessoas que tinham bons empregos e carrões e pensava, ‘por que eu não consigo? Por que eu sempre fico doente e abandono os empregos?’

Tentei me forçar a trabalhar em período integral em um call center, mas não consegui. (Havia) luzes muito fortes e barulho – uma sobrecarga sensorial.

Hoje, trabalho com pessoas com deficiências de aprendizagem.

Meu parceiro é barbeiro e conhece muita gente. Tem muitos amigos e clientes e toca em uma banda. Houve ocasiões sociais em que entrei em pânico e precisei voltar para casa. Acho muito difícil percorrer um salão e dizer oi para um monte de gente.

Mas agora ele sempre me diz antes o que vai acontecer, quem vai estar lá (no evento social) e o horário em que vai começar e terminar, para que eu possa me preparar mentalmente.

Eu até tenho alguns amigos, mas à medida que fui crescendo perdi o interesse em fazer novos amigos. Na escola, não sentia conexão com as pessoas, mas sim com as bandas às quais escutava – elas eram as minhas amigas. Sei que parece estranho. É que a música esteve comigo o tempo todo, enquanto as pessoas vêm e vão.”

Sophie, 23: ‘Ter um rótulo traz tanto benefícios quanto aspectos negativos’

“Fui diagnosticada há pouco mais de um ano, mas foi ainda no ensino médio que pela primeira vez achei que pudesse ser autista.

Meu irmão foi diagnosticado com autismo quando tinha cinco anos e ia a uma escola especializada. Eu via um pouco do comportamento dele em mim, o que me fazia pensar.

Acho que, em alguns casos, as mulheres aprendem a copiar comportamentos para conseguir viver, e é provavelmente por isso que elas não são diagnosticadas tão cedo.

Me formei em licenciatura na Universidade de Derby. Atualmente faço mestrado em inclusão e necessidades especiais e deficiência em educação.

Na universidade, meus professores disseram ter percebido coisas similares, então fui atrás de um diagnóstico. Senti que ele explicou muito (sobre mim), o que foi bom.

No entanto, sinto que ter um rótulo traz tanto benefícios quanto aspectos negativos.

Meu autismo afeta principalmente minha sociabilidade e expressão, e eu também tenho altos níveis de ansiedade, sobretudo quando há mudanças na minha rotina.

Tenho tendência a ficar obsessiva quanto a coisas como programas de TV. Chego a assistir por horas e decoro o roteiro. Também tenho que planejar o que vou dizer e não gosto de ser interrompida.

Vou e volto de táxi à universidade, porque o transporte público me deixa ansiosa.

Hoje, tenho uma mentoria especializada para me ajudar com dificuldades e para treinar minhas habilidades sociais.

Me senti bem quando contei aos meus colegas de mestrado que sou autista. São apenas cinco pessoas, então me senti à vontade para explicar. Não teria contado a uma classe grande, como os cerca de 80 que eram da minha sala na graduação.”

 

Fonte: https://www.bbc.com/portuguese/geral-43549847